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OS HUMANOS TÊM CORPOS
O texto em questão, pertencente ao parágrafo cinco que compõe do livro “21 Lições para o Século 21”, explora algumas questões de tecnologia e sociedade na atualidade com base em acontecimentos recentes e questionamentos pertinentes.
Para começar suas reflexões, o autor cita as eleições estadunidenses de 2016, quando, contrariando recomendações de jornais mais renomados, o atual presidente, Donald Trump ganhou de sua oponente, Hillary Clinton, que até então seria a opção mais apostada e recomendada pela imprensa e mídia no momento
Como sabemos, a mídia possui um grande poder de manipulação de massa, apenas pelos fatos que escolhe mostrar ou ocultar, pode-se moldar as opiniões de milhares de leitores. Fato esse potencializado quando mais de uma mídia possui a mesma opinião e decide apoiar o mesmo candidato. O que poderia ter acontecido então para que Donald Trump ganhasse a presidência, contrariando as expectativas midiáticas?
2.1. ética e mídia
Atualmente, o a mídia tradicional já perdeu e continua perdendo leitores para as novas mídias sociais, mídias essas que possuem uma característica diferente das tradicionais: seu conteúdo não é parcial e estático. O que o leitor recebe como conteúdo depende de uma intensa análise de dados sobre que tipo de conteúdo consome, suas opiniões, reações, suas curtidas, seus contatos e uma infinidade de dados que se combinam para que o chamado algoritmo filtre exatamente o tipo que conteúdo que esse leitor gostaria de receber e compartilhar.
No caso de Trump em específico, ”sua campanha considerava a maior parte da mídia tradicional como hostil e parcial”, assim, já podemos imaginar que com uma campanha mais concentrada nas novas mídias, o volume e propagação de fatos favoráveis para sua eleição seria muito maior que de sua oponente.
Com apontado pela reportagem no site BBC, podemos também dizer que sempre lemos e selecionamos fontes que condizentes com nossas opiniões próprias. Porém, no contexto das eleições em que falamos, a maioria dos jornais e revistas optava por apresentar opiniões alternativas e fatos.
O papel de influência do Facebook nesse contexto ainda apresenta dúvidas e questionamentos, porém um fato mais recente pode nos mostrar um fato ainda mais grave: as eleições presidenciais do Brasil em 2018, onde o WhatsApp, Twitter e Facebook, junto com os chamados “bots” ajudaram também a dar vantagem para um dos candidatos, o atual presidente Jair Bolsonaro.
Cito esse fato como “ainda mais grave” pois nesse momento, o uso de bots, compra de dados e empresas para disseminar notícias falsas por meio de correntes nas mídias sociais citadas é hoje, confirmada.
Pode-se afirmar também que as mídias não atuaram ativamente na disseminação dessas notícias e correntes, porém então podemos também questionar: até onde as mídias sociais são responsáveis pelo conteúdo que é disseminado por seu intermédio?
Sabemos inclusive que existe alguns filtros e meios de controle acerca das informações que circulam pelas mesmas, por exemplo, para conteúdos que violam leis não passem por nós. Sendo assim, as mídias poderiam controlar também conteúdos de viés políticos? Se sim, em que proporção pode-se medir esse fato?
2.1. comunidades
A seguir, o autor cita também um pronunciamento de Zuckerberg, onde o criador da rede Facebook diz se preocupar com a vida em sociedade e sugere estar trabalhando em uma tecnologia de inteligência artificial que como ferramenta para a construção de comunidades “significativas”.
A notícia de vazamento de informações para manipulação de eleições pelo mundo certamente pôs em dúvida a real finalidade da construção dessas comunidades. Afinal, o impacto e alcance das informações que essas redes detêm já foi experiência.
Dessa forma, o autor questiona também o uso especificamente da tecnologia escolhida. Qual a magnitude de poder que uma inteligência artificial pode ter quando esta possui informações tão profundas sobre seus usuários a ponto de estruturar com maior facilidade que eles mesmos, os grupos em que devem estar, as pessoas com que devem falar e os laços que devem manter?
Afinal, podemos imaginar que essas conexões não se formarão por uma sugestão da rede. Pelo menos não consigo imaginar uma notificação chegando em meu perfil com os dizeres “olá, achamos que pode gostar de fazer amizade com algumas pessoas, venha conferir!” Qual o benefícios que as mídias sociais podem obter ao unir pessoas de acordo com interesses próprios?
Todo o argumento de Zuckerberg sobre a importância da união de pessoas em comunidades foi baseado em ser uma necessidade e instinto humano. Pois seria mesmo?
Sabemos que a união em comunidades fora hora essencial para a perpetuação da espécie humana, afina não podíamos simplesmente nos esconder em paredes e portas caso algum animal selvagem surgisse. Nesse aspecto a vivência em comunidade de forma tão unida como nos vêm a mente quando pensamos no passado foi sem dúvida necessário.
Mas não vivemos em sociedade? Certamente o avanço de tecnologias influenciou na forma como nos relacionamos atualmente, mas não seria isso apenas uma nova forma de nos socializar?
Por um lado temos pessoas que temem as tecnologias e dizem estar destruindo as formas como nos relacionamos, por outro, temos pessoas que dizem ser apenas uma nova forma de socialização.
Confesso que nesse aspecto ainda não consigo ter uma opinião formada. Por hora deixo de abominar as novas tecnologias por estarem modificando a forma como agimos uns com os outros por reconhecer que a vida em sociedade se dá muito pela necessidade de apoio uns nos outros e que com o avanço das tecnologias, esse fato tem mudado. Porém também não deixo de achar contra instintivo.
Nesse momento confio apenas em minhas vontades e sentimentos, se quero sair com amigos, saio, se quero ficar em casa apenas me comunicando por uma tela, ou não me comunicando, fico, desde que reconheça ser uma vontade saudável. Afinal também não podemos negar que a facilidade de afastamento pode contribuir também para a criação de hábitos não saudáveis e que podem potencializar doenças e patologias psicológicas... Mas deixemos esses questionamentos para uma próxima postagem, caso se mostrem relevantes.
Podemos concluir então como usuários e contribuidores dessas novas redes ser de extrema necessidade uma maior cautela quanto a seu uso, compartilhamento de informação e dados, maior pesquisa, comprometimento aos fatos e atenção a esses novos questionamentos digitais e sociais.